sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Desfibrilador.

-carregar.

Você tinha tudo o que dizer, tudo à viver, e agora vem falar que sente falta de um amor? Ora, convenhamos, você nem deve saber sobre o que se trata esse tal de “amor”. Mas não se ofenda, não é minha intenção dizer, sugerir, ou apontar, que você seja alguém do tipo que se pode chamar: “cold” e sem coração. Mas é que você não sabe bem onde quer estar, ou talvez não perceba que está no lugar errado, e que talvez esteja fazendo a coisa toda errada, ou talvez eu é que tenha estado errado todo o tempo (ao menos até agora).

Talvez você tenha se tornado a mais nova vilã da história, e olha que você tinha tudo para ser a heroína, mas talvez me sirva agora, e até com melhor utilidade, uma real heroína... Você veste branco, e tenta salvar as pessoas, e ainda assim conseguiu me derrubar e derrotar... Perdi, caí, mas não morri. O maior erro de um homem talvez seja o de manter vivo o rival, uma vez que tenha tido a possibilidade de liquidá-lo. (se estás vivo, e morre. Uma vez mais renascerás...)

Lembre-se que não é a primeira vez nessa vida em que eu morri. Você já me matou outras vezes, em todas as outras eu achei que não fosse sobreviver, achei que você fosse mais forte do que eu. Mas uma vez que você me derrotou, mas não me matou, manteve acesa a última luz, me deixou o suficiente para poder renascer. (Não espero que entenda)

Eu percebo que você não é tão forte quanto eu achei, se fosse, talvez tivesse dado cabo de minha vida, um moribundo como eu não deve ser tão difícil de executar. E uma vez que me manteve vivo, e me vejo ressurgindo, torno-me mais forte; e ao menos que suma do meu caminho, irás sentir toda a dor e ódio que me foi conferido enquanto vagava pelas ruelas do próprio inferno.

Ou talvez... Você seja apenas a vítima. A pobre criança vestida de branco, esperando por salvação, escutando atenta de seus pais velhas cantigas e tolas preces. Você sempre venceu. Sempre se contentou com o pouco que tinha, apesar de nunca ter percebido que sempre teve o bastante, talvez por isso, ao brincar com uma arma tão perigosa, tenha disparado sem querer, e atingido um pobre inocente que passava em hora e momento errado. Seu castigo será sempre ser assombrada pela alma do inocente, que foi ferido e morto, não possuindo culpa alguma. Ele irá te seguir eternamente, buscando encontrar sua redenção. Você terá um carma, pelo seu imaculado pecado.

Não me cabe o julgamento. Isto cabe ao tempo, senhor do mundo humano, será ele que fará com que você esqueça, como todos os outros assassinados por você, todos os outros os quais você lhes roubou o coração. Ou talvez lhe absolva, fazendo com que você simplesmente esqueça, fazendo com que eu simplesmente desapareça...

Mas tenha para si um bom aviso, não me procure, não ouse me falar qualquer palavra que seja. Ou você irá pagar, a justiça será feita. E você não irá sobreviver...

4 comentários:

  1. Nossa, muito forte e objetivo. É um verdadeiro "tapa na cara."
    Isso serve para aquelas pessoas que acham que podem e que tem total direito de acabar ou controlar a vida de alguém, e para aquelas pessoas que [...]"ao brincar com uma arma tão perigosa, tenha disparado sem querer, e atingido um pobre inocente que passava em hora e momento errado."[...]

    ;*

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  2. Por não saberem o que desejam ou por saber e terem uma mente dotada de insensatez e raiva por num passado ter sido vítima direta de um outro aniquilador.
    Não tenho visto que é como na TV, a heroína é totalmente boazinha e a vilã é totalmente má... Na vida real tem a função dupla, por um lado nos acerta e nos derrota, por outro nos mostra a poesia da situação, trazendo-nos sofrimento e, como consequência, o aprendizado... Poupando-nos de uma derrota futura, nos fortalecendo!
    Temos várias derrotas, temos também "máquinas" de exercícios... Sofremos, mas ao fim, temos conosco a frustração e o fardo que é ter que aprender!
    No fundo, são frágeis, movidas apenas por um medo ou sentimento de vingança inconsciente. Fortes? Fortes somos nós, depois de tudo isso.
    É normal o ódio, anseio por um fim triste alheio, nos fez mal... Aprendemos desde pequenos... rs

    Está nítido o sentimento imposto sobre o texto, e em sua maior parte pude estar indo até episódios isolados de minha memória...

    Isso afeta toda sua vida... É tão real quanto tudo que os poetas comparam.

    Vai em frente amigo!

    Parabéns!

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  3. Interessante... tem a sofisticação e o confessionalismo que pede um blog de qualidade.

    Há ainda um rancor que eu julgaria excessivo, mas como eu não sou o autor, tá liberado uhaeuhae.

    Se eu fosse feminista, diria que o texto se esteia numa tradição misógina de achar que as mulheres são culpa do nosso sofrimento. É, né? De Lilith até essa enfermeira fetichosa (falo por causa do "vestida de branco"), é confortante — conquanto perigoso — culpá-las.

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  4. Tem muito carinho aí, apesar das ameaças.
    Se não é alguém que tem o coração amável, o que mantém a última luz acesa.
    Lhe convém não apenas existir, uma carcaça ausente de paixão que funciona pela própria fria necessidade de agir como um animal, em respeito as próprias necessidades.

    Lhe convém sobreviver.

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