sexta-feira, 27 de abril de 2012

Do estômago ao coração

Lembra dá última vez em que você se olhou no espelho? Eu lembro. O que a pessoa do outro lado da janela virtual te disse? Para mim não disse coisas boas, disso eu lembro...

E jamais poderia dizer boas coisas, uma vez que não há nada de bom à se dizer para um morto. Sim, o cara do outro lado da janela disse que eu estava morto, eu já avisei que estou morto uma ou mais vezes, não vou falar de novo. Quem quiser que procure por entre os textos chorosos desse lugar...

Me lembro de uma vez em que o cara do espelho me olhou de uma forma esquisita, eu não sabia se ele me olhava daquele jeito por ver o que eu me tornei, ou por sentir o mesmo que eu senti para terminar assim, só lembro da forma como ele me olhou, e ele continua me olhando assim.

Ele sabe, e eu também sei, precisamente o que me falta, exatamente o que eu preciso, o lugar exato para qual eu devo ir. E vez ou outra nós bolamos um plano para tentar fugir da prisão que nos cerca. Uma vez traçados todos os apontamentos, repassados todos os pontos da fuga; partimos em direção ao infinito, em busca da salvação, à bordo uma nave onde os sonhos de alcançar nova vida enchem de esperança o peito.
Não é a primeira vez, não será a última, que os tripulantes lançam-se para o além em busca de qualquer coisa que lhes traga paz. No entanto já houveram outras missões, tragédias ocorreram no meio tempo (cada um tem a “missão Apollo” que merece), para cada fracasso um pouco menos de vida.

Tanto é assim que começo a temer que não haja mais vida à ser salva dentro em breve, não haverá mais por quem lutar, não existirá mais perdição para que o messias possa salvar, em pouco tempo (talvez menos do que imagino) não sobrará nada, e além do mais................................ Espere um momento, do que eu estou falando? Eu estou morto, já à alguns anos que isso aconteceu, e eu já falei disso (uma vez ou mais aqui nesse lugar de chorosos textos...). Talvez como no ‘Sexto Sentido’, eu esteja vagando por aí com um tiro daquele velho fuzil, já velho e esquecido Kalashnikov AK 47 (se esqueceu por que acabou de lembrar?)

E no exato momento em que percebeu sua evidente morte, a nave tripulada por mim e pelo cara do espelho, começou a sofrer duras turbulências, as máquinas pararam de funcionar e a força estava no mínimo, perdidos a esmo na imensidão da galáxia, não tinham mais para onde ir.

*Diário de bordo*

Primeiro dia depois das turbulências, está tudo muito calmo, na nave, que já não funciona, temos suprimentos para sobreviver ainda alguns dias, o cara do espelho anda meio caladão, acho que todo esse papo de morte deixou ele um tanto perturbado. Do lado de fora, pela janela, dá para perceber uma estranha névoa cinza envolvendo a nave, não sei o que acontecerá depois disso...

2 comentários:

  1. Ah! Muito bom, e depressivo... Mas você é assim mesmo, apesar que não deveria! Pra texto serve, né? Enfim... Gostei! Engraçado como meu ultimo texto também foi sobre espelhos. Espelhos... Sempre intrigando e inspirando as pessoas.

    Adorei "Me lembro de uma vez em que o cara do espelho me olhou de uma forma esquisita, eu não sabia se ele me olhava daquele jeito por ver o que eu me tornei, ou por sentir o mesmo que eu senti para terminar assim, só lembro da forma como ele me olhou, e ele continua me olhando assim."

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  2. seus textos são legais...
    se fosse fictício, 'se o cara do espelho não estivesse vivendo como morto.'

    (:

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