segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

As Tragédias dos Nossos Dias.


Tudo estava como deveria, as luzes apagadas criavam a atmosfera necessária, o frio da noite, junto com o estado emocional no qual se encontrava, fazia com que sua mente não pudesse diferenciar sensações físicas de sensações emocionais, de um jeito ou de outro aquela história teria um fim...

De um lado para o outro em seu quarto frio e úmido, o jovem M. não parava de pensar, sabia que uma hora ou outra aquilo iria acabar, se bem ou mal ele não podia saber. Contando de seus vinte e poucos anos, ele julgava que a história poderia ter sido diferente, sabia que não houvera culpados para que tudo acabasse daquela forma, NÃO! Havia apenas um culpado, e era ele... Mas agora tudo iria terminar, talvez até ficasse em paz.

Se ao menos ele não tivesse se perdido naqueles dias, por causa daquele alguém, à pessoa que esteve lá desde sempre, desde que ele se lembrava à pessoa com a qual ele teve menos momentos do que com qualquer outra, porém todos tinham sido mais importantes do que qualquer outro de que ele tinha lembrança, enfim, a única pessoa que ele gostaria que estivesse lá naquelas últimas horas.

As horas passavam, a noite seguia estendendo seu manto negro havia dispensado todos os empregados, decidiu ficar em paz para aquela última prova do destino e dar descanso a todos àqueles que o cercavam e o serviam. Ele já sabia que seu destino estava selado os ares da tragédia já se faziam sentir por todos os lugares do quarto, se ele não podia tê-la ninguém mais poderia, ninguém mais deveria.

Passavam das onze quando ele saiu do quarto e desceu as escadas em direção a sala lá estava uma refeição posta para dois, logo ela chegaria, e ele não poderia demonstrar todo o seu tormento. As onze e quinze a campainha tocou, nervoso ele atendeu a porta, deveria ser ela, só podia ser ela, quem mais poderia ser?

Não era ela. A tragédia naquela noite não seria aquilo que ele havia pensado, tudo mudaria em segundos.

Quando M. abriu a porta sua surpresa não poderia ter sido maior, a porta com uma expressão de claro descontrole mental estava um de seus criados, uma pessoa que também naquela noite tinha decidido por fim a uma história que a muito o escravizava e o entristecia.

***

 O patrão nunca havia sido bom com nenhum dos servos, era desses sujeitos que não sabia tratar ninguém com o mínimo de respeito, típico dos que possuem algo, mantinha hábitos reclusos e jamais dera ousadia a qualquer pessoa, sequer tinha amigos, somente alguns bajuladores que vez ou outra vinham visitar-lhe para o exercício da hipocrisia. O máximo de relacionamento que ele e os outros servos sabiam sobre o patrão era de alguém pelo qual ele se correspondia através de cartas misteriosas e semanais nada além disso. Ele o patrão sempre que as recebia trancava-se em seu quarto e as lia solitário. E só,não sabiam de nada além disso.

Hoje ele, o empregado, tinha ido pedir um adiantamento em seu ordenado para que pudesse ajudar o pequeno irmão que estava muito enfermo, o patrão passara todo o dia trancafiado em seu quarto (o motivo também não se sabia). Ele fora várias vezes a porta do quarto para tentar falar com o patrão que nem sequer abriu a porta para lhe dizer qualquer resposta que fosse. Naquele dia o patrão dispensara a todos mais cedo. Quando ele chegou em casa soube que o irmão havia morrido. Os médicos disseram que se o tratamento houvesse sido feito com antecedência poderia haver uma chance de salvar o pequeno. O ódio lhe consumiu então. Tomou a velha arma de seu pai, ganhou a rua e seguiu em direção a casa de seu velho patrão, havia decidido que a tragédia naquela noite não bateria somente em sua porta...

***

Os vizinhos do jovem senhor M. ouviram três tiros, porém não julgaram ser algo que tivesse importância, afinal o que mais de ruim poderia acontecer na casa daquele jovem órfão? Cuja vida já era marcada pela tragédia da morte de seus pais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário